sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O encontro

O encontro
Serve pra celebrar
Ser, lembrar
A beleza de se rever
Alguém
Com quem se quer compartilhar
Tocar, trocar
Fazer valer

O encontro
É um ponto de interseção
De dois tontos
Que prontos pra troca
Se dão
É inversão
O desinverso do afronto
Uma forma de fruição
Do outro ser
Que encontro

Contrassenso
Contraponto
Tudo se vê no encontro
Mas no centro deste furacão
É que a mim mesmo
Descubro e confronto

Por inteira

Ela soltou os seus cabelos
Mundo inteiro reparou
Toda a gente sonhou tê-los
Preconceito não deixou

Não o seu, mas o alheio
Que por meio dos padrões
Faz da escova um bom conselho
E traz, no espelho, seus dragões

Por um tempo ela cedeu
Até que um dia quis saber
Porque julgam ser tão nobre
O cabelo escorrer

Se em suas curvas, se divertem
Os olhos de quem a olhar
Os seus cachos vertem ondas
Que se encaixam em qualquer mar

Se aceite por inteira
Isso não é brincadeira
Encrespe com quem diz
Que o liso é que é mais feliz

Parece uma bobeira
Mas bem saiba que não é
Pois no que você se assume
O mundo é quem te sorri

Ainda que haja, às vezes
Um alguém pra criticar
Tudo o que te traz pra si
No pesar de um "dejavi"

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Peço perdão...

Peço perdão
A todos os amigos
Ou não
Que sabem viver
A vida
Revejo assim
Meu tempo de ação
Minha aceleração
Minha esteira que só corre
/
Socorro
Também peço
Pois que na ânsia
De correr
Muitas vezes
O viver sucumbiu

Peço que me perdoem
Os irmãos
As mães
Os cães que nem tive
Mas é que em mim vive
Um sonho
Medonho, às vezes
E uma certeza
Até então inabalada
De que é por algo maior

Pela força motriz
Da minha existência
Pela lousa em que me giz
Insiste em escrever

Peço perdão a você
Que muitas vezes condenei
Pela não atitude
E na vicissitude
Da constatação
Me redimo
Me redefino
E desafino
E suplico:

Me deixem serenar
Me ajudem a postergar
O que é inevitável em mim
Me ajudem a viver
Enquanto não deixo de ser
Assim

sábado, 26 de setembro de 2015

Sobre a definição de família...

Se pai e mãe
É homem e mulher
Se pressupõe
Que na câmara
A maioria
Que de puta
É cria
Descendente
De uma democracia rasa
Decadente
Na errônea perspectiva
Do que é uma casa
E senhor de sua Maria
Que melhor faria
Se arrumasse outra
Assim
Ao invés de se ver rouca
De tanto repetir
O óbvio
Que esse senhor
Não enxerga
Pois que o ópio
Do poder já o cegou
Também...
Ao invés de ser calada
Pela intolerância
E castrada
Por seu marido
Reveria a poesia
E deixaria lá
Chorando
Na câmara
Com alarido
O camarada
Que deputa
E acha que define
O que não se amputa
O que não se imprime
O que não se escuta
O que não se exprime
E não o que se impõe
Pois que isso é quase um crime
Mas sim
O que se é
E se faz
No seio da família
Seja ela como for
Tenha a combinação de cor
De credo
De dor
Ou de sexo
Qualquer que tiver
Se ela existe
O ser persiste
E prevalece
Cresce
Amadurece
E ainda há de se sobrepor
Ao que somente apodrece
A quem carece de prece
Ao senhor

Sobre o papa...


Reconheça:
Ele tem razão!
Mas não é por ela que diz
Eu mesmo
Que não tenho religião
Sou deste senhor
Fiel aprendiz
E assim sou feliz

Porque ele é todo amor
E todos somos filhos
Da verdade honesta
Que ele prega e atesta
Somos filhos do amor

Seja com falhas ou defeitos
Todos nós, sempre, de algum jeito
Sucumbimos ao amor
Então pra que artifícios?
Se a vida já é tão difícil...

Que tal simplificar?
E ao seu querer, reverberar...
Faça o que ele disser
Seja o que quer que tenha quisto...
Nosso querido Francisco

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Dólar a quem doer

Não se apavore
É justamente por estar
Difícil acreditar
No nosso Brasil
Que o Tio Sam desconfia
E se a gente se atrofia
Tudo tende a descambar


No final das contas
Se for pra não sobrar
Não adianta espernear
Faça o seu
Trabalhe
Cobre a quem deve, claro
Mas não despeça-se
Ainda que se debatendo
Do faz-me rir
Que desce o ralo

Tenha consciência
Não especule
Pois a tal maledicência
Só fará com que ejaculem
Sempre mais
Em nossas caras

Mostra a tua
Com orgulho
Dê seu jeito
Sem barulho
E as panelas
Faça cheias

Pois que se elas
Se destinam
Ao que se devem prestar
A coerência
Quem sabe um dia
Faça o político (a)
Pensar
Ou até mesmo trabalhar

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O abraço...

Ele é o laço
Que transcende o nó
É estar distante
E não sentir-se só
É a escultura
Que se faz do pó
... Ou do grão

Um bom embaraço...

Ele é um traço
Que faz união
Ele é amor, carinho
Compaixão
É a mais pura
Forma de tesão
... Ou então desejo

E me desfaço...

Ele é atacado
Através do varejo
Ele é a emoção
Que antecede o beijo
Ele é o amor chegando
Num lampejo
... Ou fulgor

Um estardalhaço...

Ele é o prazer
Que antecede a dor
Que no seu fim
Faz-se inevitável
Até que venha
Com todo furor
O inquestionável
Esplendor
Do próximo...
Abraço

domingo, 6 de setembro de 2015

Lida sem vida

A pressão afunda
Mas o casco é forte
Se a dor que inunda
E o cantar da morte
Fazem parecer
Que já não tem mais jeito
O ar que há no meu peito
Mesmo que rarefeito
Lembra-me que ainda
Estou a viver


Vida-vela
Prumo zero
Lida velha
Sem esmero
Ainda leva
Rumo ao ancoradouro
Ainda faz crer
Que existe algum
Tesouro

* Depois de muitas perdas, essa é muito pungente porque mexe com a forma de lidar com a fuga, com a lida.

sábado, 15 de agosto de 2015

Renasço no samba

Chorar (chorar)
Sofrer (sofrer)
Não vai me levar a lugar nenhum
Se a vida eu levo a cantar
E o canto me faz renascer
Renasço no samba
Que pra mim é um lugar comum
Graças a Deus

Se um samba me faz
Relembrar
A dor do que passou
Não vem
Somente a certeza
De que fui feliz um dia
E se já fui
É porque eu sou
Capaz
Então serei
Hoje e amanhã
Também

Chorar (chorar)
Sofrer (sofrer)
Não vai me levar a lugar nenhum
Se a vida eu levo a cantar
E o canto me faz renascer
Renasço no samba
Que pra mim é um lugar comum
Graças a Deus

Se não encontro
Adiante
A paz
Ou tranquilidade pra
Seguir
Penduro no rosto
Um sorriso
E ele há de me servir
De abrigo
E nada de ruim
Vai me acontecer
E assim bem feliz
Volto logo a ser

Chorar (chorar)
Sofrer (sofrer)
Não vai me levar a lugar nenhum
Se a vida eu levo a cantar
E o canto me faz renascer
Renasço no samba
Que pra mim é um lugar comum
Graças a Deus

* Samba que nasceu pronto após ter me acordado com a sugestão do primeiro verso do refrão. Dormi logo após reassistir o filme "O mistério do samba - Velha guarda da Portela".
Como forma de acalanto às minhas tristes e constantes reflexões sobre problemas de saúde de pessoas muito queridas. Graças a Deus!

domingo, 9 de agosto de 2015

No fundo...

No fundo do oceano da nossa existência
Há algo que nos impulsiona
E algo que nos detém
O primeiro nos preserva a consciência
O segundo faz surtar, quando convém
E é quase sempre o caso

Na iminência de entregar o jogo ao carrasco
Àquele que nos fura o casco
Tal como o do navio que naufragou
O desafio é
Neste ambiente sombrio
Manter a mente acesa
E o coração bem quente
Exprimir, aos poucos, o espremido ar viciado
Contido em pulmões que, nada plenos
Penam e nos condenam
Ao cansaço e ao risco de sucumbir

Resistamos
Pois que, no alto, sempre
Acima da distante superfície
Há toda a razão de se viver contente
Há tudo o que nos motiva
E ainda que pareça muito longe
Faz-se valer a viagem errante
Então faça por onde
Alcançar a ponte
Que liga o ser vivo
Ao existir
Na gente

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Um ano sem você

Um ano sem você
Achei que seria
Uma eternidade
Mas pra minha sorte
Existe em mim
A fibra
A força
Da mulher
Que vibra
De onde quer...
Que esteja
Enseja
Minha felicidade

Saudade
É apenas o nome
Que dão à sensação
De não tê-la
Mas falsa ela se faz
Quando
Cada dia mais
Presente
Te sinto
E assim
Desbanco
A tristeza
E danço
Uma valsa
Com ela

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Daquilo que somos

Daquilo que somos
O que realmente interessa
É o que se é para o outro
Nossa existência só presta
Se faz sentido pra alguém

Ninguém é o que pensa
Ninguém é o que quer, apenas
Ninguém sequer é
Se na ânsia de ser
Se esquece
De quem o quer bem
De quem ao seu coração aquece

Esse dom de existir
Na vida de outro alguém
De verdade
É o que faz
Com que nossa existência
Se perpetue no outro

E isso não há ciência
Que comprove ou que conteste
Pois sua evidência noutra vida
É algo que ninguém apaga
É algo que ninguém repete

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Dessa viagem sem fim


Dessa viagem sem fim
Trago a esperança acesa
De que mais uma vez
Vire-se, assim, a mesa
E faça-se atroz, a presa
Algoz, como uma dia se fez

Trago a vontade
De que seja feita a nossa
E que, ainda que com a sua novidade
Ela seja respeitada
Afinal...
De que vale?
Se ela não se fizer valer?

Que a jornada seja prolongada
Por idas e voltas
Mas que não sejam em vão
Pois senão
Fica difícil alçar vôo
Se a águia
Descrente e cansada
Põe sua ninhada em solidão

Que a ambição faça sina
Até onde culmina
A vontade de vencer
Ainda que sem passar por cima
De ninguém
Pois que é dever
Dos homens do bem
Passá-lo adiante
Sem olhar a quem


* Sobre a ocasião da composição do samba-enredo pra Portela, cujo enredo era "Uma viagem sem fim". Divagações sobre conversas e conclusões compartilhadas no dia da gravação com os mestres Zezé do Pandeiro e Edynel.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Pátria mãe omissa

Transfira
A responsabilidade
Pra sociedade
Poupe-se da sua função
Óh grande mãe
Que o filho põe na rua
Ao relento
Ao desmando do patrão
Sem dar-lhe a sustentação
O pão
Ético e moral
De cada dia
De quando nascera
A quando ainda que tarde
Ele aprenderia
E lhe garanto:
Assim não aprenderá
Só causará espanto
Se é que é possível mais
Àqueles que o condenaram
E aos que, como eu
Apenas lamentaram
E não adianta
Óh mãe gentil
Levar-lhe cigarros
Na cadeia
Ou conseguir-lhe
Licença pra ceia
Quando o que lhe rodeia
É muito mais que a fome da carne
É a fome do cerne
A fome do certo
A fome de quem nunca viu
De perto
O exemplo do bem
Ou que se não o segue
Porque lhe convém
Aprendeu assim
Com algum outro alguém
Que certamente
Por mais uma falta sua
Óh mãe
Estava ali quando não devia
Esse sim ao camburão cabia
Mas é demais pra você
Criar seus filhos com dignidade
Assim como fazem
Milhares de Marias
É demais pra grande mãe
Porque de tão grande
Se perdeu
Ruiu
E esse povo
Que no peito batia
Hoje
Às vezes
Tem vergonha
De dizer
Brasil

terça-feira, 2 de junho de 2015

Débora

Débora:
A minha musa
Música...
Pros meus ouvidos...
Vívidos
Por ti mais vivos
Sândalo
E ensandecido...
Sigo-te...
Pelo caminho
Ávido...
De que haja sempre margem...
Para amá-la

Grávido...
Do seu mais grave amor
Púlpito...
És tu o meu altar
Súbito...
Sempre seja o querer, e quero...
Súdito...
Dos mais fiéis lhe ser
Íntegro...
Por todo o caminhar
Ímpeto?
Só o de lhe preservar

Quero-te...
Como o que eu mais quis
Última...
E derradeira flor
Árvore...
Dos meus melhores frutos
Digo-te:
Contigo vou viver
Décadas...
E milênios, se der
Êxito...
Contigo é certo, pois...
Única...
És a melhor mulher!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Dois Brasis

Sou obrigado a acreditar
Que o Brasil vai se dividir
Entre o azul e o vermelho
Que sequer se olham no espelho
E não percebem ser um só
Como fosse Garantido e Caprichoso
Gato escaldado e cão raivoso
Rompem laços, fazem nó

Se fosse entre o bem e o mal
Se não esperasse o carnaval
Se a bandeira se rasgasse
Eu me sentiria obrigado
A tomar algum partido
Mas entre o horrível e o horrendo
A unidade vai morrendo
E o que temos de mais belo
Que nos faz não ser esquecidos
Vai ficando no passado
E a alegria
Que caminha lado a lado
Vê seu riso adormecido

Dois Brasis
O do pobre e o do rico?
Cor de anil
Ou cor de sangue escorrido?
Deixa de ser juvenil, óh meu amigo
Não faça guerra com o vizinho
Poupe o seu ódio pro que é ruim
Assim
Quanto mais fraco e oprimido...
O povo
Mais feliz fica o partido
De novo
Se repartirmo-nos em dois
O que é que fica pra depois?
Nosso real objetivo
Que deixemos de ser roubados
E os culpados sejam punidos
Mas enquanto vamos, um pra cada lado
No Congresso ou no Senado
Eles se olham com um sorriso

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Como é bom morrer de amor

Como é bom morrer de amor
De morte matada por alguém
Através de um sentimento
Que, no fim
Sempre convém

Quanto à dor?
Também é bom senti-la
Atestando sua vida
Ainda que, caso te mate
Alguns dirão:
- Sofreu atoa

Pobres os que dizem
E não sentem
Esses morrem secos
Pra si próprios, sempre mentem

Triste, eu lhe digo
E no pior sentido da palavra
Porque a tristeza também é boa, é abrigo
Triste é quando se morre sem amor

Triste, meu amigo
É quando no laudo do doutor
Consta a causa mortis:
"Morreu sem amar"

De morte morrida
Sem amor não houve vida
Afogou-se
Sem nadar

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A saia...

A saia
Se mostra a cena
Como acenasse
A posta ceia
Anseia
Que sintas pena?
Ou senta
E dá pinta, alheia?

Alheia
A todos que olham
Ou molham
O períneo
À vera
Quer que invada-se
O seu espaço
Ou escaço se faça
Pudera
O tesão
De quem sacia
O cio
Enquanto espera