quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Amarelo

Tem dias que tudo se faz amarelo
Não sei se me remete o que é velho
Ou se imprime frescor noutros tons

Nas frias ocasiões em que isso acontece
Hora a cor mais que rejuvenesce
Hora o frio mais que emudece os sons

Não sei afirmar se é bom ou ruim
Se sei que isso faz eu me sentir assim
Envolvido em evidente sensação

Que, indefinida, só reforça o valor da vida
De quem vinha a deixando esquecida
Faz pulsar mais forte o coração


* No início do ano, presenciei alguns daqueles fins de tarde em que, de repente, geralmente após um chuva, tudo fica amarelado (Vide foto que tirei da porta do meu estúdio). Depois descobri que esses "dayellows" são muito comuns em Londres.

Numa dessas ocasiões, flagrei a amarelice, durante meu banho, pelo basculante e comecei a escrever alguns versos. Revisitando essas anotações, conclui minhas impressões.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Poema espelhado

Através do brilho intenso
De um ponto no céu escuro
Vejo que pra ser estrela
Ou planeta, no futuro
Devo me posicionar
De modo a iluminar
A quem possa atingir num raio
De alcance ainda que pequeno
Mas que, se de forma intensa
Torno então muito mais densa
A vida com a qual contraceno
À medida em que a distraio
Das pedras a machucar
No caminho a ainda trilhar
Ainda que longo e duro
Posso, eu, até convencê-la
Ao mesmo tempo em que mensuro
O valor de tudo o que penso

* À medida em que se torna difícil dormir, fica mais fácil escrever.
Assim como à medida em que esquenta o céu tem mais estrelas.
Tais circunstancias deram nisso!

Insoneto

Sonhei que nunca vivi
E nesse sonho percebi
Que nunca sonhei de verdade

Se o vivido era só sonho
Bateu-me um medo medonho
De que fosse só vaidade

Toda a história que criei
A beleza admirada
Podia, sequer, ser nada
Fruto da mente vazia

Que, se era mente de sonho
De mente não tinha nada
Evidentemente enganada
Mentia, não procedia

Mas eis que subitamente
De forma inesperada
Uma voz quase sussurrada
A mim de volta me trazia

Era a voz de minha amada
Que em beleza encarnada
Ao me ver com medo sorria

Sorria porque sabia
Que a vida nos era grata
Só por a pôr, frente a frente
Deste ente que ela flagrava

E demente, sorri, do nada
Fazendo, então, dela, a morada
Da certeza de que existia

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aliterou-cê

O corpo é cabeça e coração
Quando queremos, cuidamos
E, cada qual, com o que lhe cabe
Consegue criar consciência
E coerentemente
Cuidadosamente
É que cadencia a carência
E corrói a crueldade
Corta cordas, correntes
E quase corriqueiramente
Caquético, mas confiante
Consegue conter o calor
Quando, quente, na queda
Se quebra o quebranto
Seu Karma se acalma, se cala
E se queimam em carnaval
As cobiças, as queixas, a cruz
Cabendo àquele coitado
A casa, a cor na aquarela
De quem conseguiu
Conquistar o céu como um arcanjo