terça-feira, 29 de novembro de 2011

Todo santo dia

Todo santo dia, desde 20 de setembro, quando escrevi este poema, me esqueço de publicá-lo. Lá vai!

Todo santo dia
Balde e água fria
Sonhos de Maria
Que vão pelo ralo

Sem ter muita escolha
Ela varre as "folha"
Menina zarolha
Tal qual Frida Calo

Moça magricela
Mas concentra nela
Com uma piscadela
A atenção do falo

Qualquer um dos "homi"
A ela consome
Cedo, já com fome
Ao cantar do galo

Fome de Maria
Que joga água fria
E a tara que ardia
Vai-se pelo ralo

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Deu "Samba no breu"!

Posto hoje, um pouco atrasado, os versos que se impuseram a partir de estímulos naturais como um temporal, um apagão e uma referência a outro nobre samba.
Eis que numa segunda-feira (data, no mínimo, incomum pra sambar) lá estávamos nós (eu e meus parceiros de roda) levantando a bandeira do samba e, de repente, um temporal que já vinha se anunciando desde cedo, terminou em apagão. Terminou o temporal, acabou a energia de todo o bairro, mas, nem de longe, acabava aquela celebração que teve, então, seu ponto máximo. Eu, mais que no espírito do samba, me levantei com o pandeiro e, acompanhado por meus parceiros, especialmente o PH, fui pro meio da galera e propus que a roda continuasse daquele jeito mesmo. E assim foi! A galera se pôs a cantar em coro, ajudando com as palmas e uma energia incomum.
Chegando em casa, a primeira coisa que leio é uma postagem no Facebook da também frequentadora daquela roda aos sábados, Carolina, citando um trecho de um belo samba do grupo Casuarina que aborda um temporal e afins. Assim, me arrebata a inspiração e escrevo o "Samba no breu".

Em virtude das palavras
Ditas por nobres sambistas
E também por conta de
Algo que aqui se sucedeu
Faço um samba, de repente
Embasado por tal gente
Que, sem nada ter em vista
Ainda assim me socorreu

Digo "Até segunda-feira"
Caro Chico, aqui tem samba
Mas nessa festa de bamba
Um triste fato aconteceu
Veio a chuva e a ventania
Fazendo muito barulho
Abafou a costumeira
Alegria da galera
Que me enche de orgulho
Na energia se supera
Bate palma, canta, dança
E faz o samba no breu

Temporal baixou
A cidade se alagou
Bairro logo escureceu
O cantor se desdobrou
Todo mundo compreendeu
O que ele insinuou
A galera ajudou
E o samba prevaleceu

Quem quiser ver um registro do ocorrido, pode conferir clicando no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=Dy_IKrLFi7Q

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lá pr'além do fim do mundo

Vivo por lá
Lá pr'além do fim do mundo
Na caatinga, no depois
Onde nem se atrevem os bois
Que, se chegam, nunca voltam
A mim hão de sustentar

Terra infértil
Nada vinga, nada cresce
Nem com fé da mais devota
Onde nem sequer Deus volta
Pra saber se deu em algo
Tanto barro que deixou

Do barro fez
Mas aqui jogou o resto
Junto com moldes de homem
Que aqui só passam fome
E se misturam com a terra
Por miséria, inanição

Terra sem fonte
Mas de onde enxergo foz
Bem pr'além do objetivo
Lento, porém assertivo
Que me levará pra longe
Leve o tempo que levar

Que este ultrapasse
Todas as frias espreitas
As barreiras, profecias
Que sempre mais que tardias
Nunca findam com essa Terra
Que eu desbravarei, então

Sê quando for
Seria maravilhoso
Queria que possível fosse
Pra lá de dois mil e doze
Eu espero confiante
Que um dia ainda me vou

Quando rolar
Lá pr'além do fim do mundo
Segundo disseram astecas
Ainda mato o que me seca
Essa sêca de fugir
Daqui pr'aqui não findar